Paulo Freire: um convite a esperançar
Há pouco mais de cem anos, quase na primavera de 1921, mais precisamente no dia 19 de setembro, nascia Paulo Freire. O pedagogo e militante, que vez da sua vida uma “nova estação”, deixou um enorme legado de florescimentos.
Nos tempos de agora, tão conturbados por diversas frentes de batalha – sejam as amarguras decorrentes da crise climática, das guerras na Europa e no Oriente Médio ou das lutas cotidianas –, é preciso voltar à obra freireana pois, uma vez que se vive no tempo e no tempo a história da Humanidade é tecida, vale lembrar, como dizia o intelectual pernambucano, da “vocação ontológica para ser mais”. Isto é, quanto mais cientes de tarefa da condição de sujeitos históricos, maior será a capacidade para promover mudanças e imaginar um futuro para continuar desejando sonhos, utopias e justiça social.
Mas como manter isso vivo diante de momentos difíceis?
As oportunidades são muitas e concomitantes; e não se trata de uma cartilha, mas de um convite para agregar novas possibilidade a partir das lentes da perspectiva freireana. Partindo, de acordo com ele, da premissa de que “somos seres inconclusos”, não como falta no sentido negativo do termo, senão como seres por se fazer, movidos pela curiosidade e inquietudes, compartilhamos a esperança que vem “do verbo esperançar. Esperança do verbo esperar é espera. Já esperançar é (…) juntar-se com outros para fazer de outro modo. A esperança é um condimento indispensável à experiência histórica, sem ela não haveria história, mas puro determinismo.”
Assim, em face da persistente “desesperança” do mundo, a Projeto 21 defende uma visão oposta ao fatalismo: todos nós somos sujeitos capazes de promover a mudança e toda realidade está aí para ser modificada. A esperança é uma necessidade inerente ao ser; e, ao denominar-se um ser esperançoso, “não por pura teimosia, mas por imperativo existencial e histórico”. Freire dizia que “seria uma contradição que uma pessoa progressista que não teme a novidade, que se sente mal com as injustiças, que se ofende com as discriminações, que se bate pela decência, que luta contra a impunidade, que recusa o fatalismo cínico e imobilizante, não seja criticamente esperançosa”.
Mesmo tendo muito a ser dito sobre Freire e o seu “esperançar”, nessa toada de que o “o mundo não é, está sendo”, uma última citação representa bem o que a Projeto 21 acredita. São os versos finais da “Canção Óbvia”, do próprio Paulo Freire, publicada postumamente em Pedagogia da Indignação:
“Estarei preparando a tua chegada /
Como jardineiro prepara o jardim /
Para a rosa que se abrirá na primavera.”